O curta do Luca Guadagnino com trilha de Ryuichi Sakamoto

Somos muito mimados. Queremos tudo para ontem e para já. E por isso é muito frustrante que o filme The Staggering Girl simplesmente não esteja disponível para a gente assistir. É surreal! São apenas 35 minutos!!!

* a classe média branca sofre demais

Agora você provavelmente está pensando: "Ah, o Wakabara é um exagerado". Ah, é?
E se eu te disser que é a primeira vez que Julianne Moore trabalha com Luca Guadagnino?

Sim, Julianne Moore, ela mesma. E Luca Guadagnino é esse mesmo, do novo Suspiria de 2018 e do Me Chame Pelo Seu Nome (2017) - se você é classe média branca & LGBTQ você sabe muito bem do que estou falando.

The Staggering Girl é a história de Francesca (Moore), uma escritora que vive em NY e precisa voltar para Roma para buscar sua mãe que está ficando, pelo que entendi, muito velhinha.
Bom, aí ninguém menos que Mia Goth participa do filme.

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A neta da Maria Gladys é uma das coisas mais legais do filme anterior de Guadagnino, Suspiria.
(E sim, ela é a neta da brasileira Maria Gladys)
Ela faz o papel da mãe da Francesca, Sofia, quando nova.

E tem o Kyle MacLachlan!!!

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Vou fingir para vocês que gosto dele por causa de Twin Peaks mas no fundo nem curto tanto David Lynch e gosto dele por causa da série Agentes da S.H.I.E.L.D. HAHAHAHAHAHAHAHAHA
O toque MacLachlan é lynchiniano: ele faz TODOS os papéis masculinos.
Ai, que loucura. Seu lado cult suspirou, né? Eu sei que sim!

Ah, e tem a Kiki Layne!

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De Se a Rua Beale Falasse (2018), sabe?
Pelo que entendi ela é a personagem do livro que Francesca está escrevendo? Sei lá.

Não, não terminou. Você reparou nos looks?

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É tudo Pierpaolo Piccioli - ou seja, Valentino. Foi a Valentino que financiou a produção, que teve uma pré-estreia ano passado no Festival de Cannes.
Bom, só me resta dizer, depois de tudo isso, que a trilha sonora é de Ryuichi Sakamoto, o gênio por trás dos sons de Furyo, em Nome da Honra (1983), O Último Imperador (1987), O Regresso (2015) e tantos outros. Aliás, tem uma música de O Céu que Nos Protege (1990), Loneliness, que depois apareceu sabe onde? Em um dos episódios da série Pose!

Sakamoto é tudo. A trilha ainda não saiu, assim como o curta (ou média metragem?). The Staggering Girl vai ser exclusivo do Mubi, um serviço de streaming todo cult metido a besta que eu não vou querer assinar. Ai, que raiva.

Espero que pelo menos a música a gente consiga ouvir de novo

Espero que pelo menos a música a gente consiga ouvir de novo

E para quem ama Me Chame Pelo Seu Nome, sinceramente senti um clima:

Casos de família: dois filmes MUITO bons

Assisti nessa semana dois filmes que eu achei ÓTIMOS e estou juntando num post só. É porque ambos são asiáticos? Podia ser, mas não. Eles têm muito mais em comum: são sobre família e sobre, voilá… luta de classes! Vamos a eles: Assunto de Família (2018) e Parasita (2019), os ganhadores das Palmas de Ouro em Cannes do ano passado e desse ano, respectivamente.

Qual é o conceito de família?

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Parece uma família feliz na foto, certo? E é mesmo. Assunto de Família, aliás, tem um título melhor em japonês e em inglês: Manbiki Kazoku (família de ladrões) e Shoplifters. São pessoas marginalizadas no Japão (quem diria!) e eu não queria dar spoilers, então vou só dar perguntas:
. Essa não é spoiler porque acontece bem no começo do filme: se você acha uma criança com sinais de maus-tratos, você devolve ou fica com ela?
. Nessa mesma pegada: o conceito de família precisa ser atrelado a laços sanguíneos?
. Família, mesmo que seja relacionada a laços sanguíneos, não é uma convenção social? Será que estamos atrelados e organizados socialmente assim, nesse tipo de núcleos, porque faz sentido… economicamente? Ou faz sentido econômica e emocionalmente?
. Numa economia cada vez mais fdp para quem não é milionário, será que o sentido de família está mudando por motivos econômicos?
. É mais interessante para uma sociedade capitalista que a gente tenha laços desse tipo ou que sejamos sozinhos, moremos sozinhos, vivamos sozinhos?
. O que é moralmente aceitável quando a sociedade capitalista falha com uma (grande) parcela da sociedade? É aceitável roubar? Se sim ou se não: até que ponto? É aceitável roubar de uma lojinha de um pequeno empreendedor, de uma franquia de uma grande cadeia de lojas, ou dos dois, ou de nenhum? Qual é o parâmetro?
. É aceitável a prostituição? Ou apenas a exibição do corpo sem contato físico? Ou a exibição do seu corpo com contato físico mas sem penetração? Se a exibição é aceitável mas a prostituição não, por quê? Se a exibição não é aceitável - por que biscoitar nas redes sociais ou mandar nudes é normal e ganhar dinheiro com isso não seria?
. A convivência gera o laço amoroso?

O filme é triste. Ele não cai no melodrama, e por isso dá uma sensação mais amarga ainda. Acho que principalmente porque a gente não se coloca no lugar de algum membro da família - talvez das crianças, mas é rápido. Na verdade a gente se coloca no lugar de espectador daquilo. E é assim que a gente age na vida real: assiste. Como mero espectador.

Em cena, os atores Sakura Andô, Miyu Sasaki e Lily Franky (sim, o nome dele é Lily Franky)

Em cena, os atores Sakura Andô, Miyu Sasaki e Lily Franky (sim, o nome dele é Lily Franky)

O diretor Hirozaku Koreeda também é o nome por trás de Boneca Inflável (2009), o filme absurdinho no qual uma boneca inflável cria vida e alma. Nunca assisti, mas agora fiquei com mais vontade! Assunto de Família está disponível na Netflix.

O meu quinhão primeiro

Ki-jung (So-dam Park), Ki-woo (Woo-sik Choi) e Chung-sook (Hye-jin Jang): a família Kim é um babado

Ki-jung (So-dam Park), Ki-woo (Woo-sik Choi) e Chung-sook (Hye-jin Jang): a família Kim é um babado

Eles vivem em um semiporão em condições péssimas e se viram nos 30 para sobreviver, por exemplo dobrando embalagens de pizza. E como o próprio nome do filme sugere, enxergam uma oportunidade de funcionarem como parasitas. Eles são malandríssimos e agarram essa chance.
O nome é chocante mesmo: o que é enxergado como parasita da sociedade tem uma conotação ruim e precisa ser eliminado. Só que o parasita, nesse caso, é o ser-humano, que por estar à margem é considerado descartável, mão de obra barata, um incômodo necessário.
Mas o longa não tem mais de duas horas à toa: Parasita surpreende porque é um roteiro intrincado, bem feito, que vai se desenrolando e te surpreendendo. Em termos culturais, pelo fato de ser sul-coreano, ele é quase ocidental. Dá para entender porque ele ganhou Cannes: bem universal, apesar de ter uma trama muito particular e original.
E eu adorei a atriz So-dam Park, principalmente. A filha é apenas maravilhosa.

O diretor Joon-ho Bong já fez o hit vegan Okja (2017), o hollywoodiano Expresso do Amanhã (2013) e O Hospedeiro (2006), que nunca vi mas já me disseram que é bom (tem na Netflix).

“Qual é a senha do wi-fiiiii?"

“Qual é a senha do wi-fiiiii?"