A sandália da Beyoncé NÃO é o retrato do mundo atual
Foi por volta de 2006? Ou 2007? Não me lembro exatamente o ano, não me lembro exatamente com quem, mas uma colega minha questionou no meio de uma redação de jornalismo de moda a respeito da importância da sandália da Beyoncé. Por que aquilo precisava ser noticiado?
Ela podia ser Jimmy Choo, Manolo Blahnik ou Alexandre Birman; ela devia ser meia pata porque isso que estava fazendo sucesso na época… Pouco importa, era apenas uma sandália. Mas a resposta que a minha colega recebeu foi: “A sandália da Beyoncé é o retrato do mundo atual”.
É sério. Isso foi dito para uma amiga minha.
Hoje essa redação na qual isso foi dito nem existe mais. E o retrato do mundo já não era aquela sandália desde aquela época. Nunca foi.
De lá para cá escrevi muita nota sobre a sandália da Beyoncé, sobre a bolsa da Lady Gaga, sobre o vestido da Anitta - que era Riachuelo pra Versace mas ela disse que era Versace, lembra?
A sandália da Beyoncé na época talvez fizesse diferença nas vendas da marca da sandália da Beyoncé, só que hoje existem pouquíssimos sites que falam as marcas da sandália, da bolsa e do vestido que as famosas usam. Pode procurar: WWD dá mais ou menos, com bastante preguiça, a Harper’s Bazaar americana nunca dá, a Vogue dá de vez em quando. Para quem (ainda) se interessa, geralmente o Just Jared e o Red Carpet Fashion Awards são as melhores fontes no caso de tapetes vermelhos; e no Instagram você também encontra perfis que se dedicam a dizer que aquele vestido vaporoso daquela atriz que era estrela da Disney é Giambattista Valli e não Moschino.
Claro que o fato de quase ninguém mais falar a marca da sandália da Beyoncé significa que o interesse sobre esse assunto caiu - se desse audiência, todo mundo continuava falando.
O importante, e sobre o que eu quero escrever hoje, é da roupa que a Beyoncé usou quando apresentou Formation pela primeira vez no Super Bowl em 2016, um look que remetia a Michael Jackson (pré-Leaving Neverland), e os looks de suas dançarinas, tipo Pantera Negra. O importante é o vestido de carne da Lady Gaga, e o que ela queria dizer com isso, e o que a gente entendeu, e a diferença entre o que ela queria dizer e o que a gente entendeu. O importante é o nipple tassel da Anitta usado no clipe de Bola Rebola e que foi feito pelo projeto Ponto Firme, uma iniciativa do estilista Gustavo Silvestre de capacitação e reinserção de detentos do sistema carcerário brasileiro através do crochê.
E nem me importa se isso também não gera tanto interesse - o importante é que eu, Jorge Wakabara, acho isso bacana. Acho que essas coisas dão boas histórias.
O que importa são as próprias Beyoncé, Lady Gaga e Anitta, em suma - foi nessa conclusão que chegamos numa conversa pelo telefone com a Jana Rosa nessa semana. Quem importa é mais a pessoa e menos o que ela usa - isso é tão óbvio mas às vezes o óbvio precisa ser dito.
Então esse espaço é para falar da Beyoncé, e não da sandália dela.
Sempre amei música e cinema, sempre amei arte e série de TV, livros e… eventualmente sigo gostando de moda (mas da moda independente, principalmente). São esses os assuntos desse site.
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